
O retorno de Lula à Presidência da República não foi obra do acaso. Muito pelo contrário. Uma série de decisões estratégicas do governo Bolsonaro acabou pavimentando o caminho para que o petista voltasse ao poder. Desde suas escolhas para a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF) até o enfraquecimento da Operação Lava Jato, Bolsonaro pode ter sido, sem perceber, o grande responsável pela volta de seu maior adversário político. Vamos aos fatos.
1. A INDICAÇÃO DE AUGUSTO ARAS PARA A PGR
Quando Bolsonaro escolheu Augusto Aras para chefiar a PGR, em setembro de 2019, ele ignorou a tradição da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Aras era um nome visto com bons olhos pelo governo e, ao longo de sua gestão, atuou de forma discreta em relação a investigações envolvendo o Executivo. Mas o maior impacto de sua gestão foi o desmonte da Lava Jato.
Sob sua liderança, a PGR encerrou operações da força-tarefa, reduziu recursos e, na prática, minou a continuidade da investigação que havia colocado Lula na cadeia. Com isso, criou-se o ambiente perfeito para que, anos depois, a Suprema Corte pudesse revisar as condenações do petista, tornando-o elegível novamente.
Fonte: Agência Brasil (https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2019-09/bolsonaro-assina-nomeacao-de-augusto-aras-na-pgr), Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Aras)
2. KASSIO NUNES MARQUES E O STF: UMA ESCOLHA QUE BENEFICIOU LULA
Outro movimento decisivo foi a nomeação de Kassio Nunes Marques para o STF, em outubro de 2020. Considerado um nome moderado, Nunes Marques surpreendeu ao se alinhar a ministros como Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski em decisões que minaram a Lava Jato. Uma das mais emblemáticas foi sua participação na anulação das condenações de Lula.
Ao votar para retirar o depoimento de Antônio Palocci de um dos processos contra o ex-presidente, Nunes Marques ajudou a consolidar a narrativa de que Lula havia sido perseguido pela Lava Jato. Isso reforçou a tese da parcialidade de Sérgio Moro, o que culminou na anulação das condenações e no retorno de Lula ao jogo político.
Fonte: Gazeta do Povo (https://www.gazetadopovo.com.br/republica/kassio-nunes-marques-stf-quem-esta-por-tras-indicacao), Agência Brasil (https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-10/bolsonaro-nomeia-kassio-nunes-marques-como-ministro-do-stf)
3. O ENFRAQUECIMENTO DA LAVA JATO
Bolsonaro foi eleito em 2018 surfando na onda da Lava Jato e no discurso anticorrupção. No entanto, ao longo de seu governo, sua relação com a operação mudou radicalmente. Primeiro, ele rompeu com Sérgio Moro, seu então ministro da Justiça. Depois, apoiou movimentos que reduziram a força da Lava Jato, como o fortalecimento da PGR de Aras, que desmontou a operação.
O resultado foi uma Lava Jato esvaziada, sem o mesmo impacto de antes e com cada vez menos espaço para avançar em processos contra figuras do alto escalão político, incluindo Lula. Sem a Lava Jato em seu caminho, o petista teve o terreno livre para reconstruir sua imagem e viabilizar sua candidatura.
Fonte: Gazeta do Povo (https://www.gazetadopovo.com.br/republica/bolsonaro-lava-jato-desmonte), Agência Brasil (https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2021-12/pgr-pede-arquivamento-de-inqueritos-da-lava-jato)
4. AUMENTO DO AUXÍLIO BRASIL E O TIRO PELA CULATRA
Na tentativa de garantir sua reeleição, Bolsonaro reformulou o Bolsa Família e criou o Auxílio Brasil, elevando o valor do benefício para atrair o eleitorado mais pobre. No entanto, essa estratégia fortaleceu ainda mais a ideia de que programas sociais são essenciais, uma bandeira histórica do PT.
Muitos beneficiários passaram a acreditar que o auxílio poderia ser mantido independentemente do governo e, com a volta de Lula ao páreo, ele conseguiu convencer parte desse eleitorado de que poderia ampliar ainda mais o benefício. No fim das contas, Bolsonaro fortaleceu um discurso que acabou sendo usado contra ele na campanha de 2022.
Fonte: Agência Brasil (https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-11/auxilio-brasil-substitui-bolsa-familia-com-minimo-de-r-400)
CONCLUSÃO: BOLSONARO PAVIMENTOU O CAMINHO PARA LULA
A soma dessas decisões criou o cenário perfeito para o retorno de Lula ao poder. Bolsonaro apostou que poderia moldar o STF e a PGR ao seu favor, mas acabou fortalecendo um sistema que minou a Lava Jato e permitiu a volta de seu maior adversário. Seu erro estratégico custou sua reeleição e mudou o curso da política brasileira.
Bolsonaro elegeu Lula, e os fatos estão aí para provar isso.
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